A Rede de Museus do Distrito de Beja – breves considerações
Lígia Rafael
A maioria dos municípios do Distrito de Beja possui unidades museológicas, integradas na estrutura organizacional camarária, caraterizadas por uma interessante diversidade temática e museográfica, e com caraterísticas semelhantes no que se relaciona com a gestão e os recursos aos mais diversos níveis. Conhecedores das realidades de cada autarquia e de cada unidade museológica são os técnicos que nelas trabalham e que, no seu quotidiano, se deparam com uma complexidade de problemas que por vezes têm dificuldade em solucionar. As necessidades sentidas nas mais diversas áreas, a dificuldade de comunicação com os colegas de municípios limítrofes e a inexistência de parcerias e colaborações com outras unidades museológicas da mesma região levou a que, em 18 de março de 2008, um grupo de técnicos representativos de algumas Autarquias se reunisse em Almodôvar, com o objetivo de debater as problemáticas comuns e com o interesse de desencadear um processo de criação da RMDB.
Em Junho de 2009, em reunião realizada no Museu Municipal da Vidigueira, foi reforçada a vontade e necessidade de avançar com a criação da Rede, com o principal objetivo de facilitar o contacto entre os técnicos ligados aos projetos museológicos das Câmaras Municipais e do Museu Regional de Beja, e de incentivar a parceria e colaboração nas mais diversas áreas que permitissem potenciar projetos conjuntos de estudo, formação e divulgação.
Em 2011 formalizou-se a RMDB que contou com a adesão das Câmaras Municipais de Almodôvar, Aljustrel, Alvito, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Vidigueira, Moura, Serpa, Ourique e do Museu Regional de Beja. A Rede rege-se por uma Carta de Princípios que define como principais objetivos a qualificação, valorização e divulgação das unidades museológicas deste Distrito; a cooperação, parceria e articulação entre as unidades museológicas dos concelhos que integrem a Rede; a otimização e rentabilização de recursos, principalmente em termos de meios humanos e da realização de projetos comuns; a difusão da informação relativa aos museus da Rede e a promoção do rigor, ética e profissionalismo das práticas museológicas. Atualmente, rege-se pelas normas expressas na Carta de Princípios e é coordenada por um grupo de 3 elementos eleitos anualmente pelos membros.
Após a fase de estruturação e definição de estratégias de atuação, foram levadas a cabo algumas ações com o objetivo de dar a conhecer a RMDB e os museus que a integram. Uma das primeiras ações foi a criação de um logótipo e de uma placa identificativa tendo, posteriormente, sido desenvolvido um folheto que integra todos os museus e que serve de divulgação aos seus acervos e ao património do território onde se inserem, ao mesmo tempo que serve também de suporte à utilização do Passaporte cuja utilização pelo visitante permite a obtenção de descontos nos ingressos nos museus da Rede.
Neste processo de afirmação da Rede é de salientar a importância da criação do blog que, para além de funcionar como meio privilegiado de divulgação dos museus e os seus acervos, constitui também uma importante forma de divulgar as atividades locais e regionais. Também inserida na linha de estudo e divulgação patrimonial foi conceção da Exposição “Marcas do Território – Testemunhos do Património do Baixo Alentejo”, que inaugurou no dia 21 de março de 2013, no Pólo Expositivo do Museu Regional de Beja, com a finalidade de dar a conhecer o património de cada município através dos seus museus e dos seus acervos que, pela sua diversidade e importância, ilustram bem a evolução do homem e a sua relação com o meio ao longo dos tempos. De facto, as unidades museológicas que integram a RMDB constituem um importante instrumento de trabalho e de comunicação com as populações e com aqueles que visitam a região, criando uma dinâmica que contribui de forma inequívoca para o desenvolvimento local. Esta Exposição já passou por quase todos os municípios com resultados muito interessantes tanto em termos do conhecimento que os indivíduos adquirem daquilo que os rodeia como das dinâmicas das instituições que tutelam unidades museológicas e outros projetos de valorização de divulgação patrimonial.
Prosseguindo a sua missão dinâmica de contacto com as populações e, mais especificamente, com os técnicos envolvidos em unidades museológicas, no dia 23 de janeiro de 2014, em Castro Verde, realizou-se o I Encontro da Rede de Museus do Distrito de Beja. Este Encontro correspondeu a um importante momento de partilha entre os técnicos e colaboradores desta experiência técnica na área da museologia, que se tem vindo a desenvolver nesta região. Trata-se de uma experiência participada, ativa e demonstrativa das dinâmicas na área da museologia, que podem, e devem, vir a ser replicadas noutras áreas. Este I Encontro teve como momento principal a homenagem a Cláudio Torres, Diretor do Campo Arqueológico de Mértola, cujo trabalho realizado nesta Vila, nas áreas da arqueologia, museologia e valorização patrimonial, muito influenciou, e influencia, os técnicos que atualmente trabalham nos museus que integram a Rede. Num segundo momentos foram debatidos temas importantes em termos da prática museológica com especial destaque para o trabalho em parceria, onde foram apresentados apontamentos do trabalho das redes de museus do Alentejo, do Algarve, do Distrito de Beja e de algumas experiências europeias, e o diálogo multidisciplinar relacionado com as formas de representação e os novos diálogos resultantes de abordagens ao património material e imaterial.
Este primeiro encontro inicia um novo ciclo da RMDB que pretende levar a cabo, entre outras ações, encontros anuais que permitam a discussão de temas de interesse para os técnicos e para as unidades museológicas da região e outras ações que vão de encontro aos objetivos da Rede com especial destaque para as parceria e as trocas de experiências. Pretende-se que as experiências museológicas do Distrito de Beja atinjam um caráter de excelência e cumpram com todas as funções museológicas, ao mesmo tempo que contribuem para a valorização e divulgação do património e para a criação de laços com os membros da comunidade onde se inserem. Neste âmbito, e como objetivo de alargar a sua atuação a todas as tipologias de unidades museológicas prevê-se também, num futuro próximo, alargar esta Rede a museus com tutelas diversas das municipais, o que certamente abrirá novos caminhos e linhas de ação em termos territoriais, de investigação e de desenvolvimento de projetos.
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